terça-feira, 19 de dezembro de 2006

(texto) Manifesto de ex-dirigentes da Unimep

Os ex-reitores e vice-reitores acadêmicos da UNIMEP, cujos mandatos cobriram os últimos 28 anos, face à gravidade dos últimos eventos, decidiram tornar pública sua visão do quadro institucional com o propósito de contribuir para a solução da presente crise.
Como responsáveis pela alta administração e como docentes que acompanham a vida da universidade não desconhecem, nem têm sido indiferentes, nesse período, à crise financeira, considerando-a muito grave. Aliás, tanto o diretor geral do IEP como o reitor da UNIMEP, do mandato 2003-2006, já anunciavam nas Diretrizes para o Plano de Ação e em seus discursos de posse, as dificuldades que o quadriênio reservaria à Instituição, diante da difícil conjuntura externa, tanto na área econômica como na educacional. Esta previsão acabou se concretizando de maneira vertiginosa, sobretudo pela crescente redução do total de alunos e alunas matriculados, o que agravou a operação geral da Instituição, obrigandoa, inclusive, a ampliar o número de bolsas, para não ver a matrícula ainda mais reduzida. A esse complexo processo acresceram-se outros fatores que agudizaram ainda mais os desequilíbrios latentes na operação da Universidade.
Várias medidas já vinham sendo tomadas em quadriênios anteriores, como a alteração da estrutura da Universidade, com a extinção de Centros e Departamentos e redução do número de Faculdades, revisão da carreira docente, revisões curriculares dos cursos com diminuição dos créditos pagos pelos alunos, redução do percentual e limitação do número de qüinqüênios, cortes profundos nas despesas operacionais, entre outras. Desde 2003, a comunidade foi alertada sobre o agravamento das dificuldades, realizando-se assembléias, reuniões de colegiados superiores, de Faculdades e de Cursos, ocasiões em que a administração fez ampla e detalhada exposição, para mostrar a necessidade de medidas urgentes para minimizar os efeitos da crise. Assim, um conjunto de medidas saneadoras passaram a ser implementadas, acelerando-se este processo no presente ano.
Apenas para citar as mais importantes, registram-se o não oferecimento de cursos com baixa demanda nos processos seletivos, revisão e ajustes na carreira docente, - inclusive com o congelamento das promoções horizontais pelo prazo de dois anos - encerramento de um programa de mestrado, implementação de programa de demissão voluntária (PDV) para docentes e funcionários e, mais recentemente, processo negociado com a comunidade interna para a efetiva redução de 15% no valor dos salários, fato raro no mundo do trabalho no país. Foram também reduzidas, todas as anuidades dos cursos de graduação, abrindo-se processo de adequação desses valores, a partir de um ajuste às condições do alunado que está chegando à Universidade. Todas as providências tomadas recentemente contribuíram para a reversão do quadro financeiro, apontando para o equilíbrio operacional, primeiro passo para a obtenção de “superavit” que venha a contribuir para a necessária redução da dívida acumulada.
Todas essas e outras medidas foram tomadas em processo democrático, após negociações com os funcionários e os professores, fato que indica a consciência da comunidade acerca da gravidade da crise e sua disposição para associar-se responsavelmente aos destinos da Escola.
Como Instituição vinculada à Igreja Metodista, as suas “Diretrizes para a Educação”, parâmetros programáticos para o sistema educacional existente no país, foram observadas, durante todos estes anos, na gestão da Universidade. Por elas, o processo educacional precisa contribuir para a emergência de uma sociedade inclusiva, fundada em justa participação nos bens criados e desenvolvidos em seu interior. O projeto educacional da UNIMEP, no contexto acima, assume como missão institucional a “participação na construção da cidadania enquanto patrimônio coletivo da sociedade”, com forte compromisso de ampla inclusão social. Os Projetos Pedagógicos dos cursos adotaram esta missão como “valor guia”, a partir do qual se ordenavam pedagogicamente.
Fundados nestas práticas, não cabe aceitar medidas autoritárias para a superação da crise institucional. Elas são contraditórias em relação às Diretrizes da Igreja para suas instituições de educação, inapropriadas para qualquer projeto educacional que pretenda contribuir para a formação de cidadãos e cidadãs responsáveis em sintonia com competente formação profissional e científica, inadequadas para a manutenção de ambiente de confiança entre todos os agentes educacionais, sobretudo o que sustenta a complexa relação professor-aluno.
Demissões em massa, de modo autoritário, antes do final do semestre, que em seguida é formalmente interrompido, com conseqüências imensuráveis para orientação de teses, conclusão de estágios supervisionados e demais práticas acadêmicas, de 148 professores de um corpo docente de 590 membros, sobretudo de cientistas com longa experiência institucional, intimamente associados ao lento acúmulo da qualidade alcançada pela Universidade e objetivamente atestada publicamente, parecem mais contribuir para o agravamento da já precária situação financeira. O excelente corpo docente injustiçado com a pior punição profissional, cultivando relações científicas em nível nacional e internacional, possuindo papel político em seu nível de atuação, tende a mudar seu olhar sobre o desempenho institucional, fermentando nacionalmente um conceito negativo, que se projetará por muitos anos. Estes docentes certamente continuarão ativos em outras instituições congêneres. Os alunos e alunas, por sua vez, formados em franco ambiente de construção de práticas cidadãs, privados, por estritas razões de mercado, do convívio com docentes que aprenderam a admirar, tornar-se-ão, por muitos anos, depoentes de uma farsa educativa. A reação em cadeia se amplifica, quando se contextualiza este grupo em suas teias familiares, de amizades e organizações comunitárias.
A liderança dos últimos 28 anos da UNIMEP entende como necessário para superação da presente crise:
que o princípio da autonomia universitária seja preservado pelas partes envolvidas;
  • a suspensão imediata de todas as demissões;
  • a retomada da normalidade da vida institucional para preservação dos interesses e direitos relativos à vida acadêmica dos alunos e alunas;
  • retomada e aprofundamento dos canais de diálogo entre a Direção e o corpo docente, com resgate da cultura institucional;
  • organização e convocação de Grupos de Trabalho, prevendo-se participação equilibrada entre a Direção, o corpo docente, o corpo funcional e o corpo discente, visando ao aprofundamento de medidas corretoras do presente déficit institucional com preservação tanto dos valores expressos nas Diretrizes para a Educação da Igreja Metodista quanto nos documentos orientadores do projeto institucional.
Piracicaba, 18 de dezembro de 2006.

• Dr. Elias Boaventura
- Reitor da UNIMEP e Diretor Geral do IEP de 1978 a 1986
- Professor do Programa de Pós-graduação em Educação
• Dr. Almir de Souza Maia
- Reitor da UNIMEP de 1986 e 2002
- Diretor Geral do IEP de 1986 a 2006
-Vice-reitor da UNIMEP de 1978 a 1986
• Dr. Gustavo Jacques Dias Alvim
- Reitor da UNIMEP de 2003 a 2006
- Vice diretor Geral do IEP de 1991 a 2006
- Vice- reitor administrativo da UNIMEP de 1991 a 2002
• Dr. Ely Eser Barreto César
- Vice-reitor acadêmico da UNIMEP de 1986 a 2002
- Diretor acadêmico da UNIMEP de 1980 a 1986
- Professor convidado do Programa de Pós-graduação em Educação
• Dr. Sergio Marcus Pinto Lopes
- Vice-reitor acadêmico da UNIMEP de 2003 a 2006
- Diretor do Centro de Filosofia e Teologia de 1992 a 1995
- Diretor da Faculdade de Ciências da Religião de 1996 a 2000

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